quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sobre a seleção brasileira

O último ano que me lembro de torcer para a seleção brasileira foi na Copa de 1998. Naquela época eu tinha 10 anos de idade (alguns questionarão este fato, mas isso não vem ao caso) e não tinha muita noção de futebol, de Copa do Mundo e de televisão. Como todo bom brasileiro, torcia para a seleção do meu país, que representava toda uma nação diante do mundo inteiro. Acostumado à rivalidade entre Atlético e Cruzeiro e as discussões e animosidades em volta do confronto, tinha orgulho em ver todos os brasileiros, juntos, torcendo por um mesmo time. Para mim, era algo incomum e estranho ver um país inteiro unido em torno de uma coisa em comum. Naquela época eu tinha orgulho de ser brasileiro. Mas naquela época eu tinha só dez anos...

No passado, eu não sabia que tinha dinheiro sujo na CBF, eu não sabia que patrocinador escalava jogador, eu não sabia que os clubes pagavam para alguns de seus jogadores serem convocados, eu não sabia que o presidente da CBF escalava jogador, eu não sabia que jogador de futebol era, em sua grande maioria, um bando de vagabundos, eu não sabia que a imprensa era paga para elogiar jogadores, eu não sabia que, se a seleção fosse campeã, eu não ia ganhar absolutamente nada com isso e também não sabia que o Ronaldo ia pegar travestis – mas mesmo muito pequeno, não sei por que, eu já sabia que no Brasil tinha muito de uma tal “corrupção”. Enfim, como eu não sabia de – quase – nada, eu torcia para o Brasil.

Em 98 o Fenômeno (na época ela não era chamado de Ronaldo Pança, Ronaldo Bola, Ronaldo Pega-Traveco, dentre outras alcunhas não menos zombeteiras) teve uma crise epiléptica na noite anterior à final, contra a França, e, ainda assim, foi escalado para a partida. Dane-se a saúde do gordinho – ops, do Ronaldo –: queremos é a Copa do Mundo! No fim das contas, o Zidane detonou e a França levou o título. Em 2002 fomos merecidamente campeões, com Ronaldo calando a boca do mundo inteiro. Mas nessa época já não me empolgava muito com jogos da seleção. Em 2006 tudo foi festa: a seleção era favorita, os jogadores iam para a “balada”, o time não tinha comando, os jogadores não tinham vontade de jogar e os patrocinadores mandavam na seleção. O Brasil, como de costume, parou para ver a Copa do Mundo. Trabalhar para que, se tem jogo da seleção? Aí dava-se o “jeitinho” brasileiro. O problema do Brasil é que tudo vira festa e ninguém leva nada a sério. Por isso que o país tá do jeito que tá. Nessa época eu já torcia contra a seleção. Resultado: a participação do Brasil na Copa foi um fiasco. Agora, em 2010, eu vi uma luz no fim do túnel. Mesmo com as incansáveis críticas (algumas com razão) cuspidas na direção do técnico Dunga, que agüentou brados e clamores, além de jornalistas que vociferavam asneiras, ele fez algo que eu não via há muito tempo: patrocinador, rede globo, FIFA e o resto do mundo não mandam mais na seleção. Quem escala e convoca é o técnico, e só é convocado quem tem vontade de jogar. Craque alcoólatra, deprimido e irresponsável não teve vez. Ou leva a coisa a sério, ou tá fora (Ronaldinho Gaúcho e Adriano parecem ter sentido isso na pele). O mais importante disso tudo é que as palavras responsabilidade, dedicação, raça, vontade e seriedade parecem ter entrado para o dicionário da CBF (o Ricardo Teixeira ainda deve estar tentando decorar o significado de todas essas palavras novas para ele, mas um dia ele consegue!). Depois de muito tempo, torço para a seleção. Dessa vez, merecemos ser campeões – se não formos, será uma pena, pois, provavelmente, nossos hermanos, liderados pelo tosco e arrogante Diego Armando Maradona, serão.

Dunga pode ser goleado na Copa do Mundo e sair de forma vexaminosa da competição, mas ele pelo menos moralizou a seleção brasileira. Pelo menos botou ordem naquela zona que era a Confederação Brasileira de Futebol. Pelo menos ele me deu a esperança de que o Brasil ainda pode ser um lugar melhor.

Mas convenhamos: levar Felipe Mello, Josué e Kleberson foi foda!

Rafael de Paula

domingo, 20 de junho de 2010

Sobre o envelhecer e o amadurecer

Envelhecer significa amadurecer. Nem sempre! É claro que alguém consciente, sábio e maduro tende a ficar mais e mais consciente, sábio e maduro. Coisas ruins estão aí, e se queremos amadurecer, temos que considerá-las no outro e em nós mesmos. Ninguém é bom ou mau: somos resultado de uma luta ininterrupta entre o bem e o mal dentro de nós. Por vezes fazemos coisas boas, por vezes fazemos coisas ruins. E ninguém se torna melhor sem reconhecer isso. Então, quando fazemos uma coisa ruim, temos que reconhecer nossos erros e simplesmente dizer “desculpa!”. Por favor, não me interpretem mal. Não estou dizendo que podemos consertar as coisas que fazemos simplesmente pedindo desculpas, mas na maioria das vezes isso é o melhor que podemos fazer. Parece algo óbvio e simples, mas já vi pessoas e pessoas cujos orgulho, soberba, prepotência e arrogância impedem o simples, humilde e grandioso ato de pedir desculpas. A partir daí é que digo que envelhecer nem sempre significa amadurecer. Envelhecer pode significar ficar mais e mais ignorante, mais preconceituoso e mais idiota. Mas, felizmente, envelhecer pode nos tornar uma pessoa melhor.

Permitam-me um plágio, por favor. “Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma”*. Podemos nos enganar achando que a vida do outro é melhor. Mas os outros escondem os problemas, angústias, tristezas. Muitas pessoas saem de suas casas sujas, empoeiradas, largadas às traças e cupins, para, todos os dias, regarem a sua grama e cuidarem do seu jardim. Depois de passarem todo o dia cuidando, regando, adubando, voltam para suas casas e se enterram em seus quartos escuros. Então, amadurecer é perceber que o jardim do outro realmente pode ser mais bonito que o seu, mas que a sua casa pode estar mais limpa e bem cuidada.


Rafael de Paula



*Passagem retirada do texto A massacrante felicidade dos outros, da jornalista e poeta Martha Medeiros.