No passado, eu não sabia que tinha dinheiro sujo na CBF, eu não sabia que patrocinador escalava jogador, eu não sabia que os clubes pagavam para alguns de seus jogadores serem convocados, eu não sabia que o presidente da CBF escalava jogador, eu não sabia que jogador de futebol era, em sua grande maioria, um bando de vagabundos, eu não sabia que a imprensa era paga para elogiar jogadores, eu não sabia que, se a seleção fosse campeã, eu não ia ganhar absolutamente nada com isso e também não sabia que o Ronaldo ia pegar travestis – mas mesmo muito pequeno, não sei por que, eu já sabia que no Brasil tinha muito de uma tal “corrupção”. Enfim, como eu não sabia de – quase – nada, eu torcia para o Brasil.
Em 98 o Fenômeno (na época ela não era chamado de Ronaldo Pança, Ronaldo Bola, Ronaldo Pega-Traveco, dentre outras alcunhas não menos zombeteiras) teve uma crise epiléptica na noite anterior à final, contra a França, e, ainda assim, foi escalado para a partida. Dane-se a saúde do gordinho – ops, do Ronaldo –: queremos é a Copa do Mundo! No fim das contas, o Zidane detonou e a França levou o título. Em 2002 fomos merecidamente campeões, com Ronaldo calando a boca do mundo inteiro. Mas nessa época já não me empolgava muito com jogos da seleção. Em 2006 tudo foi festa: a seleção era favorita, os jogadores iam para a “balada”, o time não tinha comando, os jogadores não tinham vontade de jogar e os patrocinadores mandavam na seleção. O Brasil, como de costume, parou para ver a Copa do Mundo. Trabalhar para que, se tem jogo da seleção? Aí dava-se o “jeitinho” brasileiro. O problema do Brasil é que tudo vira festa e ninguém leva nada a sério. Por isso que o país tá do jeito que tá. Nessa época eu já torcia contra a seleção. Resultado: a participação do Brasil na Copa foi um fiasco. Agora, em 2010, eu vi uma luz no fim do túnel. Mesmo com as incansáveis críticas (algumas com razão) cuspidas na direção do técnico Dunga, que agüentou brados e clamores, além de jornalistas que vociferavam asneiras, ele fez algo que eu não via há muito tempo: patrocinador, rede globo, FIFA e o resto do mundo não mandam mais na seleção. Quem escala e convoca é o técnico, e só é convocado quem tem vontade de jogar. Craque alcoólatra, deprimido e irresponsável não teve vez. Ou leva a coisa a sério, ou tá fora (Ronaldinho Gaúcho e Adriano parecem ter sentido isso na pele). O mais importante disso tudo é que as palavras responsabilidade, dedicação, raça, vontade e seriedade parecem ter entrado para o dicionário da CBF (o Ricardo Teixeira ainda deve estar tentando decorar o significado de todas essas palavras novas para ele, mas um dia ele consegue!). Depois de muito tempo, torço para a seleção. Dessa vez, merecemos ser campeões – se não formos, será uma pena, pois, provavelmente, nossos hermanos, liderados pelo tosco e arrogante Diego Armando Maradona, serão.
Dunga pode ser goleado na Copa do Mundo e sair de forma vexaminosa da competição, mas ele pelo menos moralizou a seleção brasileira. Pelo menos botou ordem naquela zona que era a Confederação Brasileira de Futebol. Pelo menos ele me deu a esperança de que o Brasil ainda pode ser um lugar melhor.
Mas convenhamos: levar Felipe Mello, Josué e Kleberson foi foda!
Rafael de Paula