segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre o tempo e as estrelas no céu

Hoje eu percebi que há muito tempo eu não olhava as estrelas no céu. Via algumas mais azuis, outras mais brancas, outras mais vermelhas, e me perguntei: elas sempre foram assim, meio que, digamos, coloridas? Achei-as tão bonitas, tão serenas, que tranqüilizaram meu espírito tão inquieto, ansioso e até impaciente. Mas me pergunto: se o céu está sempre ali, tão evidente, tão grandioso e tão disponível ao simples olhar, porque há tanto tempo eu não o observava? Porque o simples ato de parar e admirar aqueles pequenos pontos brilhantes do céu tem ficado, para mim, cada vez mais raro?

É o parar de perceber essas pequenas coisas do mundo, essas sutilezas da vida, essa tal de “essência” das coisas, que me dá mais medo. Quando essas coisas passam despercebidas é porque ou tudo tem passado rápido demais ou a gente perdeu a sensibilidade para algumas coisas não apenas importantes, mas fundamentais. Um sorriso, um abraço, um aperto de mão, uma conversa frívola, uma “prosa ruim”, escutar música por escutar. São todas estas coisas tão pequenas e tão magnânimas ao mesmo tempo! Como? É simples: são coisas que remetem àquilo que temos de mais puro, mais sincero e mais simples. Aí volto a usar a palavra essência: essas coisas nos fazem lembrar daquilo que é essencial, mas ainda assim insistimos em esquecer ou em ignorar.

Se não damos atenção às estrelas do céu, à paisagem da janela, à uma viola velha que chora sozinha na madrugada, ao som do mar, à fluidez de um rio, quem dirá das sutilezas do ser, daquilo que há de mais feliz ou mais triste no outro? Afinal, é nessas pequenas coisas que conhecemos e entendemos os outros e alcançamos, da forma mais sublime, os seus sentimentos mais sinceros e intensos.

E enquanto admirava as estrelas, refletia sobre coisas da minha vida, e nesse breve devaneio oscilei entre tristeza e alegria, serenidade e ansiedade, medo e coragem. Nesse átimo, percebi que o tempo é, definitivamente, relativo. Podemos fazer coisas importantíssimas em alguns poucos segundos ou passar uma vida inteira sem fazer absolutamente nada, com a doce ilusão de estar fazendo muito. Podemos entender o mundo em um instante de inspiração, enquanto podemos, por muito tempo, ignorar aquilo que é realmente importante.

Rafael de Paula