terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sobre escrever


Às vezes somos assolados por uma vontade incontrolável de escrever. Ela simplesmente vem, sem qualquer aviso. Nos pega de surpresa, chega sem bater à porta. Daí sempre vem aquela mesma pergunta: escrever sobre o quê? Procuramos aqui e acolá; pensamos em música, livros, filmes, histórias, futebol, política (?), novela (??). Mas nada nos parece suficientemente interessante – ou então não temos nada interessante o suficiente para escrever. Eis que, repentinamente, temos aquele insight e o tema tão procurado surge do nada, como se fosse por geração espontânea, recompensando o tremendo esforço mental antes destinado à procura de algo para dizer. Daí vem o alívio.

Escolhido o tema, começamos a escrever de forma frenética. As idéias saem aos borbotões: desorganizadas, confusas, dúbias. Não importa: o importante é não perder o essencial, ou seja, segurar as idéias antes que elas desapareçam (nossa mente é assim, se não usamos logo uma boa idéia, ela logo se perde, dando lugar a outros pensamentos muitas vezes menos produtivos e dignos de qualquer registro). Traçado o esboço, começamos a lapidar a pedra que, aos poucos, começa a tomar forma. Contudo, o texto pode tomar uma forma inesperada, traçar caminhos que não sabíamos existir. Satisfeitos ou não, ficamos estupefatos com os desvios da estrada, ainda que o fim último da palavra tenha sido alcançado. E o texto está pronto, esteja ele bom ou ruim.

Mas de onde vem essa vontade de escrever? É tudo força de idéias e sentimentos que não suportam mais o cárcere? É como se as idéias clamassem, desesperadas, pela liberdade que nunca tiveram. É por isso que saem como uma turba, ávidas por serem registradas em qualquer lugar. No fim, é tudo necessidade de canalizar o nosso “turbilhão mental”. É uma vazão quase inconsciente que pode se expressar de várias maneiras distintas, não podendo ser ignorada. Esse turbilhão pode conter idéias boas ou ruins, mas vale a pena arriscar. Afinal, uma grande idéia costuma aparecer uma só vez. E grandes idéias são coisa rara de se ver.

Rafael de Paula

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